Dados das exportações e importações da indústria brasileira divulgados ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) reforçam a dificuldade que o setor vem tendo de recuperar as suas vendas.
Enquanto o desaquecimento de parceiros importantes reduziu as exportações industriais nos primeiros dois meses de 2019, a atividade interna ainda fraca do País diminuiu o volume de importações no mesmo período.
O volume das vendas feitas pela indústria de transformação ao mercado internacional recuou 18% no primeiro bimestre de 2019, em relação a igual período de 2018. As importações, por sua vez, caíram 14,4% na mesma base de comparação, mostram dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV IBRE).
Os indicadores de importação industrial de bens de capital (máquinas e equipamentos) e de produtos intermediários (peças e componentes para a produção de um bem acabado) também são um termômetro do desempenho do setor.
As compras da indústria de mercadorias desses dois grupos caíram 9,5% em fevereiro de 2019, contra igual mês de 2018, mas avançaram 7,9% no primeiro bimestre.
Apesar do crescimento bimestral, a pesquisadora associada do FGV IBRE, Lia Valls, comenta que a crise na Argentina é um fator de preocupação para as nossas vendas de manufaturados, com destaque para os automóveis, cujo impacto já foi sentido nos primeiros dois meses do ano.
Exemplo disso é que as exportações brasileiras de bens duráveis (onde estão incluídos os automóveis) despencaram 34,1% no primeiro bimestre. Na avaliação de Valls, a crise argentina ainda terá repercussão nos próximos dados das exportações industriais que serão divulgados ao longo desse semestre. O país vizinho é o principal comprador de automóveis brasileiros.
“Mesmo que o Brasil aumente as vendas de veículos para países como Peru, Chile e México, essas exportações não compensariam a perda de embarques feitos para a Argentina”, comenta Valls.
Ela afirma que isso se justifica pela própria divisão internacional da produção das multinacionais do setor. A maioria dos carros produzidos no Brasil, por exemplo, é um modelo mais voltado para o consumo da população argentina.
Todo esse cenário fez com que a participação da Argentina nas nossas exportações caísse de 7,8% no primeiro bimestre de 2018, para 4,4% em igual período de 2019.
Mais um desafioO professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Orlando Assunção Fernandes, ressalta que a atividade industrial vem tendo muitas dificuldades de se recuperar desde a recessão econômica nos anos de 2015 e 2016. Mesmo com o final da crise, a demanda interna não tem conseguido reagir.
“Durante esses anos de recessão, quem estava segurando a nossa produção industrial eram as nossas exportações, mais especificamente a venda de automóveis para a Argentina”, lembra Fernandes.
Agora, além de lidar com a dificuldade de recuperação do consumo interno, a indústria nacional se vê diante de mais um desafio: o desaquecimento econômico de nossos principais parceiros como a China, a Argentina e a União Europeia.
“Por outro lado, os Estados Unidos (EUA) é um dos nossos principais parceiros que está conseguindo manter um ritmo constante de crescimento”, destaca Fernandes.
O Icomex mostrou que, em volume, as exportações brasileiras cresceram 8,1%, mas caíram 6,2% em valor. O aumento das vendas externas, em quantidade, foi liderado pelas commodities que cresceram 22,5% durante o período.
Outros dados do IBRE FGV mostram ainda que a participação da China nas exportações brasileiras aumentou de 18,5% para 23,8% entre o primeiro bimestre do ano passado e o de 2019. Já os Estados Unidos (EUA) – nosso segundo principal mercado – registrou participação de 12,8%, um pouco acima do resultado do ano passado (12%).
Fonte: DCI.